Revista Reformador

O livro dos espiritos¹

Quer em sua primeira, quer em sua segunda e definitiva edição, O livro dos espíritos é a compilação dos ensinos ditados pelos Espíritos Superiores e publicado por ordem deles. Segundo Kardec, nada contêm que não seja a expressão do pensamento deles e que não lhes tenha sofrido o controle. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação, constituem a obra daquele que recebeu a missão de o publicar.

Conquanto Kardec sempre repetisse que o mérito da obra cabia todo aos Espíritos que a ditaram, não é menos verdadeiro que a ele é que coube a ingente tarefa de organizar e ordenar as perguntas – e que perguntas! – sobre os assuntos mais simples aos mais complexos, abrangendo variados ramos do conhecimento humano.

A distribuição didática das matérias encerradas no texto; a redação dos comentários às respostas dos Espíritos, os quais primam pela concisão e pela clareza com que foram expostos; a precisão com que intitula capítulos e subcapítulos; as elucidações complementares de sua autoria; as observações e anotações, as paráfrases e conclusões, sempre profundas e incisivas; e bem assim a sua notável Introdução – tudo isto atesta a grande cultura de Kardec, o carinho e a diligência com que ele se houve no afanoso trabalho que se comprometera a publicar. Kardec fez o que ninguém ainda havia feito: foi o primeiro a formar com os fatos observados um corpo de doutrina metódico e regular, claro e inteligível para todos, extraindo do amontoado caótico de mensagens mediúnicas os princípios fundamentais com que elaborou uma nova doutrina filosófica, de caráter científico e de consequências morais e religiosas. Assim, é como coautor de O livro dos espíritos, e não como simples compilador, que o devemos apreciar. A ele, pois, cabe, com mais razão, segundo o nosso despretensioso parecer, o método da grandiosa obra.

¹ N.R.: WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codifi[1]cador. vol. único. Org. Zêus Wantuil. 4. ed. 1. imp. Brasília, DF: FEB, 2019. 2a pt., cap. 1 – A fagulha da renovação, it. 7 A data máxima do Espiritismo e a repercussão causada por O livro dos espíritos. (Transcrição parcial.)