Revista Reformador

Lavando a alma

Sidney Fernandes*
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Resumo

Como manter a alma limpa, isenta de más tendências para o ódio, o ressentimento, a inveja e tantas outras coisas negativas mais? Preenchendo o espaço comprometido por ervas daninhas com ervas essenciais. Este texto relembra a figura do bumerangue australiano, que traz de volta tudo o que lançamos. Aliás, não é esse exatamente o alerta que faz Paulo, ao relembrar os conceitos de Jesus?

Palavras-chave

Cisco alheio; maledicência; lado bom; lado mau; conselho de Paulo de Tarso.

Almas sujas

Tão importante quanto a higiene do corpo físico é a limpeza da alma. Não foi sem razão que o maior código de ética que o mundo já conheceu, trazido por Jesus, nos trouxe exemplos, sermões e uma série de recomendações para que nos preveníssemos contra as doenças que decorrem das máculas do Espírito.

Jesus foi bastante incisivo com relação principalmente aos defeitos, dizendo que é muito fácil para nós detectar falhas alheias. Difícil é conhecer a nós mesmos e combater sistematicamente erros e imperfeições que advêm da nossa alma.

Lembro-me de história bem interessante a respeito de uma senhora, que, observando pela sua janela o varal da vizinha, comentou com o marido que ela não sabia lavar direito a sua roupa. Os lençóis estendidos estavam sujos, e não branquinhos, imaculados e brilhantes como os dela. Disse que um dia iria até lá para ensinar a vizinha como lavar de modo certo a sua roupa. Essa ladainha repetiu-se durante alguns dias, até que certa vez, olhando pela janela, ela surpreendeu-se:

– Nossa, como estão brancos os lençóis da vizinha! Alguém deve tê-la ensinado a lavar sua roupa igual à minha.

– Não! – disse o marido. Na verdade, hoje de manhã eu lavei a nossa janela.

Nessa interessante metáfora, que relembra a expressão de Jesus quanto à trave do nosso olho e o cisco do olho do próximo, a senhora que fiscalizava os lençóis esqueceu-se de cuidar do visual da sua própria casa, atribuindo a sujeira de sua janela às roupas do varal da outra. É preciso lembrar que uma das maiores inconsequências da Humanidade é ver o mal de outrem. Parece que, para nos elevarmos, precisamos diminuir os outros. Dizem os psicólogos que tendemos a atribuir a outras pessoas os nossos próprios defeitos. Existe, porém, um outro fator que pode macular palavras e atitudes.

Tomates venenosos

O tomate, essa fruta deliciosa utilizada nas saladas, sucos e outras criações gastronômicas, já foi considerado um veneno. Nos idos de 1700, pela crença de que era amaldiçoado pela culinária, ele era utilizado em decorações de festas e bailes da alta classe europeia, por seu escarlate, que atraía os olhares dos convivas.

É bem verdade que, a exemplo de outras solanáceas, o tomate contém solanina, uma toxina natural, que pode ter provocado recusa para sua ingestão. No entanto, a versão predominante, que não invalida a da solanina, começou com os ingleses, que serviam a fruta em pratos de estanho. O problema é que nesses utensílios havia traços de chumbo. Como o tomate é ácido, retirava involuntariamente o chumbo dos pratos e passava-os aos alimentos por reações químicas.

Somente em 1820 é que o tomate foi absolvido, quando um homem de Nova Jersey, nos Estados Unidos, comeu em público um tomate inteiro e, naturalmente, não morreu. A popularidade do alimento passou a aumentar à medida que o medo por ele ia desaparecendo.

Perguntará o leitor: O que tem a ver o tomate com palavras e atitudes?

Como sabemos, por enquanto, todos nós temos, em nosso interior, uma parte boa, generosa, que nos impulsiona para a gentileza e para o bem, vive em harmonia e não se ofende facilmente. A outra parte, que devemos incessantemente lutar para reduzir, é cheia de raiva, ódio e ressentimento. Ela não mede a consequência de seus atos e tenta comprometer as nossas palavras e atitudes. Parece que é envolta por uma substância de chumbo, que azeda nossos atos.

Por que isso acontece? Talvez outra metáfora nos ajude a descobrir.

O que sai de nós, quando a vida nos “aperta”?

Wayne W. Dyer, autor do livro Seus pontos fracos, certa vez, em uma de suas palestras, surpreendeu a todos quando apresentou uma laranja. Começou a dialogar com um garoto de 12 anos, que estava sentado na primeira fila.

– Se eu apertasse essa laranja, o mais forte que pudesse, o que sairia dela? – perguntou Dyer.

– Suco de laranja, é claro! – respondeu o menino.

– Por quê? – tornou a falar Dyer.

– Ora, porque é uma laranja e é isso que está dentro dela.

– Vamos supor que essa laranja seja você. Imagine que alguém aperta você, pressiona você, diz algo que você não gosta e o ofende. E de dentro de você vem raiva, ira, ressentimento e ódio. Por que isso saiu? Porque é isso que está no seu interior. Se alguém fizer ou falar algo que você não gosta, o que tem do lado de dentro vai sair.

Quer dizer, amigo leitor, que somos escravos da substância de chumbo, que existe em nosso interior, que contamina nossa parte boa? Negativo!

Tudo depende das nossas escolhas. Se nada além de amor, empatia, generosidade, gentileza, compreensão e paciência sair de nosso interior, é porque assim determinamos e permitimos.

Milagrosa solução

Se preenchermos o nosso interior com coisas positivas, anularemos a barreira de chumbo que contagia boas palavras e atitudes boas. As coisas negativas não terão mais espaço e gradativamente diminuirão. Cultivemos o nosso interior, preenchamo-lo com ervas essenciais e as ervas daninhas não mais surgirão.

Os pensamentos e sentimentos tóxicos são prejudiciais à nossa saúde mental, física e espiritual. Quem é o primeiro a sofrer com a maledicência, com a inveja, com o cisco do olho alheio? Nós mesmos é que seremos afetados por essas emoções do nosso interior.

Fiquemos com Paulo em Colossenses, 3:13, aqui interpretado por Emmanuel:

Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como o Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.

Relembra-nos o nobre mentor de Chico Xavier que precisamos cultivar a renúncia aos pequenos gestos e desejos para estruturarmos a sublimação, em alto nível. Elevação, ajuda e tolerância para com os outros retornam com velocidade superior à da luz para o nosso interior:

Esqueçamo-nos, assim, de todo o mal, para construirmos todo o bem ao nosso alcance.

E, para que possamos agir nessas normas, é imperioso suportar-nos como irmãos, aprendendo com o Senhor, que nos tem tolerado infinitamente.

Emmanuel

N.A.: Orador e escritor espírita, diretor e colaborador do Centro Espírita Amor e Caridade – Bauru (SP).

REFERÊNCIA:
EMMANUEL (Espírito). Fonte viva. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 37. ed. 16. imp. Brasília, DF: FEB, 2024. cap. 163 – Aprendamos com Jesus.