Jesus um raio de luz ¹
Sidney Fernandes*
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Resumo
Quem é Jesus? O cordeiro de Deus que redimiu a Humanidade? Bastará aceitá-lo para que sejamos salvos? Filho de Deus ou o próprio Criador encarnado? Como reverenciá-lo? Jesus é o mais perfeito modelo que Deus nos ofereceu e a expressão mais pura da lei do Senhor. Este texto procurará destacar que a maior homenagem a ser oferecida a Jesus será buscar a renovação interior, atender a Lei Divina e assimilar os seus exemplos de compreensão e desapego aos interesses pessoais, em favor do bem comum.
Palavras-chave
Jesus; Natal; complexidade de Jesus; dever do cristão; olhar de Jesus.
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Raio de luz
– Em meio a grande tempestade, inúmeros viajantes se recolheram a enorme casarão que se assemelhava a um labirinto. Porque sentissem medo uns dos outros, cada qual se escondeu nos quartos mais internos e, vindo a noite, em vão procuraram o lugar de saída. Começou, então, enorme conflito. Lamentos. Pragas. Assaltos. Correrias. Pancadas. Crimes nas trevas. Um homem, que por ali passava, ouviu os rogos de socorro que partiam do infortunado reduto e, longe de gritar ou discutir, acendeu a sua candeia e passou entre os amotinados, em profundo silêncio. Bastou a luz dele para que todos percebessem os disparates que vinham fazendo, ao mesmo tempo que encontravam, por si mesmos, a porta libertadora² [Grifo nosso].
Jesus é o raio de luz que Deus mandou à Terra para servir de guia e exemplo para a Humanidade. A singela analogia de Hilário Silva conseguiu sintetizar com fidelidade a verdadeira razão da vinda de Jesus à Terra, tarefa cumprida há mais de dois mil anos, tempo esse que não foi suficiente para definirmos exatamente quem Ele é e o que representa em nossas vidas. Muitos de nós ainda o consideramos o salvador, que absorveu os pecados do mundo, lembrando antigas cerimônias em que animais eram sacrificados para depurar as comunidades de seus pecados. Não obstante Ele nunca ter se referido a si mesmo como Deus e sempre ter se apresentado como mensageiro divino, um servo do Senhor, como Filho do Homem, gerado por um casal, muitos há que o confundem com o Criador. Outros estão convictos de que basta concordar com sua mensagem ou reverenciá-lo com a mera participação em rezas e cerimônias, lembrando-se d’Ele somente nas horas difíceis, quando, na verdade, Ele é o Mestre, o irmão mais velho, que veio à Terra com o objetivo de nos ensinar a trilhar o caminho que Ele percorreu. E, como fazem os bons professores da Terra, não apenas pregou, mas exemplificou e vivenciou os revolucionários princípios que, corajosamente, trouxe ao mun do, desde a humildade da manjedoura até o sacrifício na cruz.
Entre a manjedoura e o gólgota vamos encontrar um roteiro de renovação, apresentado à Humanidade com simplicidade e profundidade.
Programa básico
O progresso evolutivo, razão maior de nosso mergulho na carne, depende da interpretação e da aplicação de nossas iniciativas, com as ferramentas que Jesus nos ofereceu, reiteradas pelo Espiritismo, que poderão nos proporcionar agradável e suave jornada. O distanciamento, no entanto, entre o que o Evangelho nos propõe e o rumo que efetivamente escolhermos para nossa encarnação, desaguará na descrença, na indiferença e nas dificuldades oriundas da má escolha.
Vejamos, de forma sucinta, porém essencial, algumas das propostas do Cristo, diante das falhas cotidianas, com imagens claras e objetivas retiradas do dia a dia do homem comum. Ressalta Richard Simonetti³ alguns desses pontos importantes:
• Aos que, levianamente, julgam o comportamento alheio, cita a passagem da mulher adúltera e lembra que todos temos defeitos, come temos falhas e não podemos atirar a primeira pedra;
• Aos que estão inseguros com a presente situação do planeta Terra e temerosos quanto ao futuro da Humanidade, recomenda que pro curemos o Reino de Deus, cumpramos os mandamentos divinos e tudo o mais será dado por acréscimo;
• Aos egoístas, egocêntricos e apegados aos bens materiais, apresenta a experiência de um homem ambicioso, que acumulou muito dinheiro, mas não pôde desfrutá-lo, e adverte que não se pode ser vir a dois senhores, a Deus e às riquezas;
• Aos que resolvem suas pendências utilizando-se da violência, esclarece que quem com ferro fere, com ferro será ferido e será, portanto, vitimado pela própria violência.
E segue o Mestre apresentando singelas comparações e metáforas precisas, que precisam ser conhecidas e internalizadas, pois fazem parte de um programa básico, mínimo, necessário ao cumprimento integral da missão que escolhemos, ao nos candidatarmos a um novo período de permanência no âmbito material.
Onde está a felicidade?
Temos procurado a felicidade no lugar errado, distante do roteiro traçado por Jesus. Nosso GPS existencial insiste em nos conduzir para experiências comprometedoras, quando o essencial está aí, de graça, ao nosso alcance, por meio do es tudo, internalização e aplicação das lições de Jesus.
O Espiritismo, qual farol abençoado, que ilumina os escabrosos caminhos humanos, confirma e nos adverte com veemência que Jesus continua sendo o caminho, a verdade e a vida.
Embora não seja tarefa fácil, o processo de renovação interior será alcançado, se levado a sério, passando a constituir nossa preocupação constante; se detectarmos em nossa personalidade os pontos de atrito com o comportamento ideal, por nós mesmos prometido; se assestarmos nosso olhai e vigiai em cada gesto, cada palavra e cada atitude.
Esse esforço de cumprimento da Lei Divina nos sintoniza com a Divina Inteligência e resulta retroalimentação do projeto de autoconhecimento, para que nos dispamos definitivamente da vestimenta do homem velho, como advertiu Paulo de Tarso, e vistamos a roupa nova, brilhante, diáfana, do homem novo.
Para que isso ocorra, no entanto, será necessário homenagearmos constantemente a figura do Mestre Jesus, fazendo exatamente o que Ele faria, se estivesse em nosso lugar.
Reverenciando Jesus
Tive o capricho de acompanhar a mídia falada, televisada e das redes sociais, nas comemorações do Natal de anos anteriores e, consternado, constatei que de tudo foi falado – festas, comidas, bebidas, promoções, viagens, presentes e Papai Noel –, menos do aniversariante. Exceção feita às esporádicas reportagens citando Jesus, a grande maioria das pessoas nem sequer lembrou-se d’Ele, preocupando-se, isso sim, com a mesa lauta e com as confraternizações de fim de ano.
A triste conclusão a que chegamos é de que os homens de bem, de todas as escolas filosóficas e religiosas, ainda que iluminados pela Doutrina Espírita, precisam retomar as atenções de seus corações para a figura do maior Guia da Humanidade.
Na questão 625, de O livro dos espíritos, de Allan Kardec, mentores maiores revelam que Jesus constitui o tipo de perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra, como o mais perfeito modelo da pura lei do Senhor. Podemos afirmar que atualmente Jesus é o modelo seguido pelos homens? Ou optamos por seguir outros modelos e exemplos? Luzes faiscando nas ruas, casas, lojas, presentes, bebidas e comidas especiais. Famílias e amigos reunindo-se em grandes comemorações. Esse é o clima que predomina no mês de dezembro, em comemoração magna, na suposta data de nascimento de Jesus. Tudo preparado? Nada falta para a grande comemoração?
Infelizmente poucos se lembram do aniversariante, empolgados com a forma, esquecidos da essência. Mais importante do que as comemorações vazias, regadas a excessos, com sérios prejuízos à saúde e à moral, seria nos lembrarmos do magnetismo divino que emana da manjedoura, que nos levaria a prestar mais atenção ao verdadeiro espírito de Natal, capaz de nos levar de volta às propostas sublimes do Evangelho de Jesus.
Projetar o Natal para o Ano Novo
Principalmente no Natal, precisaríamos nos concentrar em algumas recomendações do Cristo e projetá-las para o novo ano que vai se iniciar. São ideias simples de serem praticadas, que em nada vão alterar as apressadas rotinas de vida e que nos trarão extraordinários benefícios. Vejamos algumas delas:
• Aos que entendem que a oração tudo resolve, sem esforço: – Orar sempre, sem jamais esquecer o trabalho;
• Aos que se dispõem a ajudar, impondo o filtro da seletividade: – Doar, sem saber quem será o beneficiário;
• Aos que se propõem a cooperar, desde que seja por algum tempo: – Servir, sem perguntar até quando;
• Aos doentes rebeldes que contaminam atendentes com seus sofrimentos: – Sofrer, sem espalhar dores;
• Aos que obtiveram sucesso em seus empreendimentos: – Progredir, sem perder a simplicidade;
• Aos que fazem o bem por interesse ou dever: – Semear, sem pensar na gratidão;
• Aos que impõem exigências para o perdão: – Desculpar incondicionalmente;
• Aos que ainda não sabem olhar com a pureza das boas intenções: – Aprender a olhar sem malícia;
• Aos que ainda não aprenderam a ouvir e entender o interlocutor: – Escutar e silenciar;
• Aos que ainda não conseguiram dominar a língua: – Falar sem ferir;
• Aos preconceituosos: – Respeitar, sem considerar credo, gênero, orientação sexual, posição social ou idade;
• Aos nervosos que ainda não cultivam a resignação: – Exercitar a paciência.
É pedir muito? Com um pouco de esforço, balizaremos nossas atitudes com as recomendadas pelo maior mensageiro de Deus que passou pela Terra e nos habilitaremos à felicidade decorrente de seus exemplos e ensinamentos.
Onde está Jesus?
Se pensarmos bem, há muitos anos temos nos mantido sistematicamente no erro, ainda apegados às coisas materiais, distantes do esforço do aperfeiçoamento interior. Se nos fosse permitido lembrar de vidas passadas, por certo concluiríamos que estamos dentro de um círculo vicioso de cinco ou mais reencarnações de baixo teor.
Dessa forma, como dirigir-se a Jesus, sem regenerar os próprios impulsos? Temos que desfazer as sombras que ainda nos rodeiam, para sentirmos as suas bênçãos.
Temos recebido há várias vidas recursos necessários para avançar e sair desse looping negativo e ficamos na mesma, presos como balões cativos, sem aproveitar as oportunidades que os protetores espirituais nos oferecem.
Conscientizemo-nos da máxima “ajuda-te que o céu te ajudará”, que pressupõe nossa participação em todas as rogativas que lancemos ao Alto. Se não houver disposição de renunciar às posturas antigas e de mudar alguma coisa em nós, estaremos correndo em círculos.
Ao nos candidatarmos à fé, à paz e à presença divina, precisamos endireitar a conduta e a maneira de nos relacionarmos. Só assim abriremos as com portas para permitir que a luz divina penetre em nossa alma.
Jesus, mesmo com sua imensa superioridade espiritual e o amor que tem por nós, não pode violentar o nosso proceder. Daí a necessidade de retificarmos as estradas em que temos vivido, preparando nossa vida para receber a influência d’Ele.
É necessário criar condições para sermos auxiliados pelo Mestre, vencendo nossos maus impulsos e aprumando as atitudes da nossa existência.
Dessa forma entendemos que, para nos habilitarmos à proteção de Jesus, para que possamos vislumbrar sua luz, seguir seu programa evolutivo, buscar a felicidade, ainda que relativa, para que o reverenciemos condignamente e projetemos as comemorações de seu aniversário para o novo ano e finalmente o encontremos e o coloquemos definitivamente em nossas vidas, torna-se in dispensável que entendamos o seu olhar.
O olhar de Jesus⁴
O olhar compreensivo e amoroso de Jesus inspira-nos a superar as viciosas imagens que teimam em aparecer em nosso campo visual, ao nos determos na faixa escura dos companheiros de jornada.
Jesus viu:
– Em Bartimeu, o cego de Jericó, a possibilidade de passar ver a vida com outros olhos;
– Em Madalena, a extraordinária companheira de jornadas, que se distanciaria das sombras sofredoras e assumiria a beleza espiritual da mensagem divina da ressurreição;
– Em Zaqueu, o missionário momentaneamente enganado pelos desvarios da posse, que, com o Mestre, iria readquirir a administração sábia e justa;
– No vacilante Pedro, a despeito de sua invigilância, o baluarte seguro do Evangelho nascente;
– Em Judas, não o discípulo ingrato, mas o colaborador traído pela própria ilusão, cujo amor se estenderia pelos séculos futuros, amparando vencidos e soerguendo a justiça das nações.
Busquemos algo do Olhar de Jesus para nossos olhos e a crítica será definitivamente banida do mundo de nossas consciências, porque, então te remos atingido o Grande Entendimento que nos fará discernir em cada companheiro do caminho, ainda mesmo quando nos mais inquietantes espinheiros do mal, um Irmão nosso, necessitado, antes de tudo, de nosso auxílio e de nossa compaixão – Emmanuel [Grifo nosso].
*N.A.: Orador e escritor espírita, diretor e colaborador do Centro Espírita Amor e Caridade [CEAC] – Bauru (SP).
REFERÊNCIAS:
¹ SIMONETTI, Richard. Uma razão para viver. Reflexão sobre a palestra proferida em 1989, no Centro Espírita Amor e Caridade (CEAC), Bauru (SP), sobre Jesus.
² SILVA, Hilário (Espírito). A vida escreve. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 11. ed. Brasília, DF: FEB, 2021. 2a pt. Médium: Francisco Cândido Xavier, cap. 28 – O ensino da luz.
³ SIMONETTI, Richard. Uma razão para viver. Reflexão sobre a palestra proferida em 1989, no Centro Espírita Amor e Caridade (CEAC), Bauru (SP), sobre Jesus.
⁴ EMMANUEL (Espírito). Viajor. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. Araras, SP: IDE, 1985