Revista Reformador

Espíritos luminares do passado

Orion Ferreira Pinheiro*
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Resumo

Este artigo traz uma mensagem de esperança, consola e esclarece. Aborda a reencarnação de Espíritos luminares do passado, mostrando uma das faces do amparo permanente à Humanidade encarnada. Enfoca dois movimentos realizados pela Espiritualidade Superior: o primeiro, cujo ápice ocorreu durante o século XIX, com a reencarnação em massa de Espíritos Superiores com missões específicas, dentre eles Kardec, apressando o avanço planetário; o segundo, que vem ocorrendo desde meados do século XX, em que, de forma discreta, estão retornando ao plano físico os baluartes das grandes civilizações do passado, num processo acelerado nos últimos anos, tendo em vista a complexidade da transição em curso.

Palavras-chave

Espíritos luminares do passado; reencarnação em massa de Espíritos Superiores; suporte aos encarnados; transição planetária.

Vamos inicialmente definir o que são Espíritos luminares do passado. Trata-se de Entidades que tiveram uma atuação significativa nos avanços da Humanidade. Nem todos aparecem nos registros da História, a grande maioria é composta por anônimos impulsionadores do progresso. O seu retorno ao plano físico ocorre dentro de um fluxo contínuo, todavia em determinadas épocas surgem circunstâncias favoráveis, com a convergência de vetores que propiciam um movimento de reencarnação coletivo. Assim retornam juntos, representando um esforço inusitado da Espiritualidade em concentrar a reencarnação de uma grande quantidade de Espíritos de tal envergadura em um único período. São verdadeiros heróis, recrutados pelo Cristo para servirem novamente em solo planetário.

Encontra-se na Codificação a base para os estudos desses Espíritos luminares. O evangelho segundo o espiritismo apresenta uma mensagem do Espírito Henri Heine, recebida em Paris, no ano de 1863. Discorrendo sobre “Os últimos serão os primeiros”, assim se expressa:

Jesus gostava da simplicidade dos símbolos e, na sua linguagem varonil, os obreiros que chegaram na primeira hora são os profetas, Moisés e todos os iniciadores que marcaram as etapas do progresso, as quais continuaram a ser desenvolvidas através dos séculos pelos apóstolos, pelos mártires, pelos Pais da Igreja, pelos sábios, pelos filósofos e, finalmente, pelos espíritas. Estes, que vieram por último, foram anunciados e preditos desde a aurora do advento do Messias e receberão a mesma recompensa. Que digo? recompensa maior. Últimos chegados, os espíritas aproveitam dos labores intelectuais dos seus predecessores, porque o homem tem de herdar do homem e porque seus trabalhos e seus resultados são coletivos: Deus abençoa a solidariedade. Aliás, muitos dentre eles revivem hoje, ou reviverão amanhã, para terminarem a obra que começaram outrora. Mais de um patriarca, mais de um profeta, mais de um discípulo do Cristo, mais de um propagador da fé cristã, se encontram no meio deles, porém, mais esclarecidos, mais adiantados, trabalhando, não mais na base, e sim na cumeeira do edifício. Seu salário, pois, será proporcional ao mérito da obra.¹

No ano seguinte foi a vez do Espírito Mesmer trazer uma contribuição sobre o assunto, por meio da mensagem “Imigração de Espíritos Superiores na Terra”, recebida na Sociedade Espírita de Paris, em 7 de outubro de 1864, pelo médium Delanne, e veiculada por Kardec na Revista Espírita de maio de 1865:

Nesta noite vos falarei das imigrações de Espíritos adiantados que vêm encarnar-se em vossa Terra. Esses novos mensageiros já tomaram o cajado do peregrino; já se espalham aos milhares em vosso globo; por toda parte estão dispostos em grupos e em séries, pelos Espíritos que dirigem o movimento de transformação.

A Terra já se agita ao sentir em seu seio aqueles que outrora ela viu passar através de sua Humanidade nascente. Ela se regozija em revê-los, porque pressente que vêm para conduzi-la à perfeição, tornando-se guias dos Espíritos ordinários, que precisam ser encorajados por bons exemplos.

Sim, grandes mensageiros estão entre vós; são eles que se tornarão os sustentáculos da geração futura. À medida que o Espiritismo cresce e se desenvolve, Espíritos de ordem cada vez mais elevada virão sustentar a obra, em razão das necessidades da causa. Deus espalhou suportes para a doutrina; eles surgirão no tempo e no lugar. Assim, sabei esperar com firmeza e confiança; tudo o que foi predito acontecerá, como diz o livro santo, até um iota.

Se a transformação atual, como acaba de dizer o mestre, levantou as paixões e fez surgir a escória dos Espíritos encarnados e desencarnados, também despertou o desejo ardente numa multidão de Espíritos de posição superior nos mundos dos turbilhões solares, de virem novamente servir aos desígnios de Deus para esse grande acontecimento.

Eis por que eu dizia há pouco que a imigração dos Espíritos Superiores se operava em vossa Terra para ativar a marcha ascendente de vossa Humanidade. Assim, redobrai de coragem, de zelo, de fervor pela causa sagrada. Ficai sabendo que nada deterá a marcha progressiva do Espiritismo, porquanto poderosos protetores continuarão vossa obra.²

Com essas comunicações mediúnicas observa-se o primeiro movimento sendo realizado. Como vimos, a Terra, como um organismo vivo, se agitava e se regozijava sentindo em seu seio o retorno dos Espíritos que ela viu passar no pretérito da Humanidade nascente. A transição havia se iniciado…

Considerando que a revelação é progressiva, a Espiritualidade vem transmitindo novos esclarecimentos sobre o tema de forma sucessiva por meio de mensagens complementares.

Dentre essas mensagens, uma das mais emblemáticas é “Kardec e Napoleão”,³ do Espírito Irmão X. Nela são revelados detalhes de uma reunião ocorrida “[…] na noite de 31 de dezembro de 1799, no coração da latinidade, nas Esferas Superiores […]”. Esse evento precede em poucos anos a reencarnação de Kardec, que dela participou. Estavam presentes delegações de todo o planeta, formando uma “[…] grande assembleia de Espíritos sábios e benevolentes […]”. Havia chegado a hora do Consolador… O autor espiritual elenca os nomes de diversos encarnados e desencarnados presentes, referindo-se a eles como

[…] Espíritos de velhos batalhadores do progresso que voltariam à liça carnal ou que a seguiriam, de perto, para o combate à ignorância e à miséria, na laboriosa preparação da Nova Era da fraternidade e da luz.⁴

Naquele final de século XVIII muitos já estavam reencarnados, todavia uma grande quantidade de Espíritos Superiores estava em processo de preparação para o retorno no século XIX, dentre eles o próprio Kardec, quatro anos depois. Por ocasião da Codificação os Espíritos Henri Heine e Mesmer já os identificavam em solo planetário.

Vale agora uma reflexão de onde estavam retornando. Certamente uma parte procedia das faixas espirituais superiores do nosso planeta, mas inúmeros proviam de outras moradas da Casa do Pai.

Quase cem anos depois a Espiritualidade esclareceu melhor o assunto, reafirmando a revelação original da época da Codificação. Em 1962, o Espírito Castro Alves enviou a mensagem “Na era do Espírito”, onde disserta sobre o surgimento da Doutrina Espírita. Após descrever o ambiente na França à época da Codificação e apresentar um rápido diagnóstico da Ciência e da Religião no século XIX, esclarece:

Mas o Espaço se descerra! Jesus, no esplendor dos sóis, Recruta gênios e heróis A iluminar o porvir.⁵

Vamos tratar agora do segundo movimento, que teve início no século XX, com registros a partir de meados do século, e irá atravessar o século XXI.

Os movimentos de retorno dos Espíritos luminares do passado seguem uma programação estabelecida pelo Alto, com sua reencarnação ocorrendo em todos os quadrantes do planeta, cumprindo missões específicas, que fogem à nossa plena compreensão. Fazendo um recorte focado no Brasil, não é surpresa a quantidade de revelações referentes à sua presença no ambiente espiritual e no plano físico da Terra de Santa Cruz, diante dos compromissos espirituais da Pátria do Cruzeiro.

Realizando agora um segundo recorte, no que concerne a Espiritismo, dentro desse complexo planejamento certamente muitos teriam envolvimento com a Doutrina Espírita. Um dos primeiros sinais dessa ação foi revelado pelo Espírito Castro Alves, por meio da mensagem “Apelo à mocidade espírita-cristã”, recebida em 1948, endereçada aos jovens da época:

Combatem ao nosso lado, Sem fuzis conquistadores, Espíritos benfeitores Buscando a paz de amanhã… Ei-los! – voltam do passado! São mil gênios sobre-humanos, Choraram trezentos anos, Nos circos da fé cristã. Trazem fúlgidas bandeiras, Entoam hinos felizes, Bendizendo cicatrizes – Santificados heróis!… Atravessaram fogueiras, Serviram a Deus, de rastros, Volvem, hoje, de outros astros – Sóis brilhando noutros sóis!⁶

Encaixando cada uma dessas revelações como se fossem peças de um vitral, por onde é filtrada a luz da Revelação Divina, observa-se um ajuste perfeito entre elas. Completamente alinhadas ao ensino universal, preceituado por Kardec. Assim, temos o Espírito Mesmer revelando que Espíritos de posição superior, nos mundos dos turbilhões solares estavam ardentemente desejosos em servir novamente a Deus na Terra, e o Espírito Castro Alves, por sua vez, fala que Jesus recrutou gênios e heróis no esplendor dos sóis, e finalmente, em Espíritos retornando de outros astros, sóis brilhando noutros sóis.

Quanto a Espíritos vivendo em outras esferas celestes, mas ainda ligados ao nosso planeta, o tema não é novidade para os espíritas. Dispomos na literatura mediúnica de um exemplo clássico, revelado por Emmanuel no livro Renúncia, em que apresenta a história de Alcíone, que fazia parte de um grupo de Espíritos ligados à arte, realizando estudos em um dos orbes de Sírius, a serviço de Jesus, visando a futura aplicação de suas pesquisas na Terra.⁷

No Natal de 1979, o Espírito Juscelino K. de Oliveira fez uma importante revelação, absolutamente coerente com as anteriormente estudadas, por meio da mensagem “No Espaço Espiritual do Brasil”:

Mensageiros de grande porte, provindos das esferas superiores, encontram-se prestes a reencarnar nesta terra varonil, para apressar a difusão e concretização do reinado da Regeneração.

Do Egito à Índia, de Roma à China, da Caldeia à Babilônia regressam ao planeta seus filhos maiores, para oferecerem na Pátria do Evangelho suas vidas e experiências milenares.

Não lhes podemos descrever as comemorações que se desenvolvem no espaço espiritual da Terra de Santa Cruz, mas digo-lhes que todos os espetáculos de beleza que o Orbe já pode conceber, comparados à magnificência da solenidade, seriam apagados e monótonos momentos da pobre vivência do ser terráqueo.⁸

Em 15 de outubro de 1980 o Espírito Castro Alves, pela mensagem “Brasil, hoje”, informa que:

Espíritos benfeitores No Brasil, perante o mundo, Tocados de amor profundo, Retornam do Grande Além E, entre ocultos resplendores, Dissolvem taras primevas, Rompendo os grilhões das trevas Na forja viva do Bem!⁹

O autor espiritual volta a fazer referência a Espíritos benfeitores. Se em 1948 eles eram observados combatendo ao lado dos jovens, em 1980 estavam retornando do Grande Além.

Em 1986, o Espírito Guillon Ribeiro, em mensagem psicofônica, esclareceu que:

Não requisitamos hegemonias doutrinárias para a Pátria, Coração do Mundo, mas sabemos que, na missão histórica da comunidade brasileira, o Cristo de Deus estabeleceu que se reencarnassem os promotores do progresso da Humanidade […].¹⁰

Considerando que parte dos Espíritos luminares teriam contato com a Doutrina Espírita, mais cedo ou mais tarde bateriam às portas das nossas milhares de instituições e, nelas, nas salas de evangelização e de mocidade. Vale a lembrança de que a Espiritualidade vem chamando a atenção há décadas para que o Movimento Espírita não meça esforços quanto à Evangelização das novas gerações. Num primeiro momento inspirando e, depois, apoiando a Campanha Nacional de Evangelização Espírita Infantojuvenil, e, na sequência, o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita [ESDE]. Elos de uma mesma corrente de sustentação para as novas gerações, nelas incluídos muitos espíritas pela segunda vez.

No primeiro decênio do novo milênio, Bezerra de Menezes, por intermédio da mensagem “Construtores do amanhã”, recebida em 9 de novembro de 2008, informa que:

Jamais, como agora, o Amor de Jesus, enviou à Terra Embaixadores tão numerosos para que possam apresentar-lhe a mensagem dúlcida do amor, que ficou esquecida na memória dos tempos…

Heróis anônimos da caridade, missionários da renúncia, cientistas e pensadores, artistas e estetas mergulham, sem cessar, nas sombras terrestres para evocar e viver a proposta do Amor como dantes nunca havia ocorrido.¹¹

Observa-se nas palavras do autor espiritual que estamos vivenciando uma época única, com a vinda dos Construtores do Amanhã, verdadeiros Embaixadores do Cristo na crosta planetária, em quantidade nunca vista antes. Mas é importante ressaltar que não devemos esperar necessariamente a atuação desses Espíritos luminares com enorme visibilidade social. Alguns certamente terão destaque em face das missões específicas, porém a atividade da grande maioria parece ser anônima, em todo o mundo, conforme coloca Bezerra de Menezes, oferecendo bons exemplos, como citou o Espírito Mesmer.

Fechando esse artigo, é interessante registrar que a transformação atual também trouxe de volta Espíritos em grandes dificuldades, muitos deles destruidores de séculos passados, alguns que há muito não reencarnavam, transformando o plano físico em um imenso cadinho de purificação e redenção, com enormes desafios para a Humanidade. Onde o novo ainda não se estabeleceu completamente e o antigo se esforça por manter a situação de desequilíbrio vivenciada pelos homens através dos séculos…

Entretanto a Humanidade não está e nunca esteve desamparada. Existem diversas ações de suporte em curso e, dentre elas, o retorno dos Espíritos luminares do passado, trazendo sua contribuição para o avanço da Terra, rumo ao seu destino como Mundo de Regeneração. Atuando não mais na base, mas na cumeeira do edifício, nas palavras do Espírito Henri Heine, na Codificação. O Espiritismo, por sua vez, está a postos, para cumprir sua missão.

Assim como no passado tivemos o “Século de Péricles”, o “Século de Augusto”, o “Século das Luzes”, atravessamos apenas as duas primeiras décadas do século XXI, que será significativo para a História da Humanidade, em plena transição planetária. Como será chamado no porvir? Só o futuro dirá…